domingo, outubro 12, 2014

Flávio "Santos" Show



No próximo domingo, dia 19/10, vou tocar no evento intitulado Flávio "Santos" Show. O show que ocorrerá na Casa Cultural Matriz será em benefício do amigo Flávio Elias Soares, locutor e ex-segurança da casa. Há cerca de dois meses, Flávio foi vítima do despreparo de dois guardas municipais em Belo Horizonte, numa agressão que resultou na perda da visão do olho direito. Para agravar mais a situação, ele já tinha apenas 40% da visão do olho esquerdo. Toda a renda do evento será revertida para despesas médicas, entre outras, uma vez que ele ainda não pôde retornar ao trabalho.

A primeira vez que tive contato com o Flávio, ele estava trabalhando na portaria da Casa Cultural Matriz, onde eu tocava com certa frequência. Logo na entrada percebi a voz marcante de Flávio quando ele perguntou o meu nome para conferir na lista da produção. Batendo um papo com ele mais tarde, ele começou a imitar personalidades como o Sílvio Santos (que rendeu o apelido dos frequentadores, e explica o nome do evento) e Clodovil Hernandez. Num dos festivais que realizei na casa, aproveitei essa habilidade dele para fazer uma brincadeira com a plateia, enquanto eu estava no palco conversava ao microfone com ele como se estivesse falando ao celular. Escondido no camarim Flávio imitava a voz do "homem do Baú" e prometia que estaria no palco para entregar pessoalmente o troféu à banda vencedora do festival. Eleita a banda, Flávio subiu ao palco literalmente dando um show em sua interpretação do Senor Abravanel que levou a plateia às gargalhadas durante alguns minutos.

O show de domingo está sendo organizado de forma coletiva e contará com diversas bandas da cidade que conheceram Flávio durante o tempo que trabalhou na Matriz. Para essa ocasião especial, convidei meu amigo Rodrigo Braga para me acompanhar em algumas canções. No repertório pré-selecionado incluímos músicas de Hendrix, Dylan, Barão Vermelho, Nei Lisboa, Raul Seixas e Ramones

O evento contará ainda com as bandas: Marla, Evil Matchers, Lumière, Dead Pixels, Drunk Demons, Retoma e Martyrizer. Mas, o que vale mesmo nessa data é rever o amigo, Flávio e mobilizarmos as pessoas sobre o lamentável ocorrido, não deixando que o caso passe impune.


Links para que possam conhecer o caso da forma mais isenta possível:  

http://noticias.r7.com/minas-gerais/guarda-municipal-abre-portaria-para-investigar-agressao-contra-locutor-26082014

http://www.otempo.com.br/cidades/vendedor-denuncia-guardas-municipais-por-agress%C3%A3o-em-bh-1.905003

https://www.youtube.com/watch?v=IWE0G_rL9DU

E aqui um vídeo de quatro anos atrás de um programa TV Alterosa de Minas Gerais mostrando o trabalho de Flávio:

https://www.youtube.com/watch?v=9pmoAuiMs-U


Vídeo do Flávio convidando para o show:

https://www.facebook.com/video.php?v=371838196305832&set=vb.185603164929337&type=2&theater



Local: Casa Cultural Matriz – http://matrizbh.com.br/
Endereço:
Rua Guajajaras, 1353 - Terminal JK 
Data: 19/10
Horário: 14h
Ingresso: R$12,00
Info:
31 3212.6122


domingo, outubro 05, 2014

Engenheiros do Hawaii - Uma Breve Viagem Discográfica: Os Anos Gessinger, Licks & Maltz

9. Posfácio

Simples de Coração (1995)






Como havia dito na postagem sobre o disco Filmes de Guerra, Canções de Amor, resolvi adicionar um posfácio à série publicada aqui sobre os discos dos Engenheiros do Hawaii gravados pela formação Gessinger, Licks & Maltz. O texto que segue abaixo é uma adaptação de um comentário que escrevi no blog de Humberto Gessinger em 11 de janeiro de 2012, quando ele comentava sobre o disco em questão.

Depois da saída do guitarrista Augusto Licks, a banda admitiu de imediato o guitarrista Ricardo Horn, o músico faria alguns shows com Humberto e Carlos ainda no formato trio. Sem alcançar a sonoridade desejada por eles, ou tentando fugir de se tornar um cover de si mesma, eles acabaram optando pela entrada de mais dois novos membros: o guitarrista Fernando Deluqui (ex-RPM) e o tecladista e acordeonista Paolo Casarin, transformando em quinteto a banda que sempre havia sido um trio. 

Simples de Coração foi o primeiro disco da banda a não sair em vinil. A capa apresentava diferenças estéticas em relação aos trabalhos anteriores, começando pela ausência das engrenagens (presente nos sete discos do período GLM) e a mudança da fonte com o nome da banda (na edição em CD, um adesivo com o nome da banda vinha colado sobre a caixinha de acrílico, um Sagrado Coração estampava a capa).

No que tange a música, a banda apresentava inevitavelmente uma nova sonoridade em função da perda da guitarra tão característica de Augusto Licks. Os Engenheiros era uma das poucas bandas nacionais que tinha um som reconhecível logo na introdução de qualquer uma de suas músicas. Agora, eles apresentavam um som mais denso, de certa forma, devido à maior instrumentação das músicas com o formato quinteto e ainda a presença de músicos adicionais em várias faixas. Outra diferença fundamental foi a presença do produtor americano Greg Ladanyi que já havia trabalhado com os Jacksons, Jeff Healey Band, Kansas, Fletwood Mac, Toto, entre outros, o que levou a banda a gravar em Los Angeles. Talvez pelo fato da banda ainda estar procurando uma nova cara, juntamente com as referências dos trabalhos anteriores, o disco acaba por parecer mais com o produtor do que com a banda, o que acaba por não ser algo totalmente negativo, uma vez que Greg conseguiu um som espetacular no disco que contou com bons arranjos, e fazendo até com que o fraco guitarrista (?) Deluqui soasse bem no disco (num nível que nunca o tinha ouvido nem antes, nem depois em sua carreira). Já com o excelente tecladista Paolo Casarin ele não deve ter tido muito trabalho, o músico adicionou excelentes teclados e acordeons às músicas. Ricardo Horn com alguns bons momentos de guitarra também não comprometeu, assim como Maltz, agora com suas levadas de bateria um pouco limitadas, aparentemente pela nova (e maior) formação. Humberto manteve suas boas linhas de baixo, soando como um baixista mais “tradicional”, perdendo muito da pegada mais “guitarrística” que Augusto Licks, dizia que ele tinha.

O disco abre com a música “Hora do Mergulho”,  mais exatamente ainda, com um coro infantil cantando à capella em sua introdução, precedendo à entrada da banda e o bonito arranjo de guitarra de Ricardo Horn. Ele também apresenta um bom solo no meio da canção. Humberto adiciona uma linha de baixo, fazendo um acompanhamento com acordes, algo não tão recorrente no instrumento. Na letra, Gessinger continuava mandando bem, rebuscando seu estilo e mitificando sua imagem: “Eu sou um déspota esclarecido/nessa escura e profunda mediocracia”. “À Perigo,” já apresenta o acordeom de Casarin, instrumento que seria uma marca do disco. Deluqui (pasmem!) realiza um bom solo de guitarra. Humberto fala de resistência: “eu sigo em frente, pra frente eu vou/eu sigo enfrentando a onda/onde muita gente naufragou”. “Simples de Coração” tem a melodia reaproveitada da música Sweet Begônia II (cuja letra consta no encarte do disco A Revolta dos Dândis, mas nunca foi lançada pela banda). Cantando corajosamemente em tons mais altos, esse talvez seja o melhor disco de Humberto como vocalista. “Lance de Dados” tem uma levada acústica e traz a participação especial do percussionista Luís Conte. A temática segue falando em resistência, sobrevivência, novos rumos e comenta sobre um acidente automobilístico sofrido por Humberto pouco tempo antes: “Os deuses jogam pôquer/E bebem no saloon doses generosas de BR101”. “A Promessa” foi a música de lançamento do disco, um bom trabalho de Horn e Deluqui fazendo dobras nas guitarras e o piano de Casarin. Gessinger recorria à sua linha de crítica social: “Propaganda é a arma do negócio/No nosso peito bate um alvo muito fácil”. “Por Acaso” ressalta a mistura que resultou na sonoridade do disco, um lado acústico com violões e acordeom induzindo à música gaúcha e, de outro lado, guitarras que puxavam um pouco para o hard rock setentista (essa era inclusive a principal referência do novo visual da banda). “Ilex Paraguariensis” gravada apenas com instrumentos acústicos traz mais claramente a influência da música gaúcha desde o título que leva o nome da erva-mate com a qual se faz a bebida tão apreciada nos pampas: “Hoje eu acordei mais cedo/Tomei sozinho o chimarrão”. “O Castelo dos Destinos Cruzados” de Carlos Maltz, Ricardo Horn e Kleber Lúcio trazia o baterista novamente nos vocais desde a música “Filmes de Guerra, Canções de Amor” gravada no segundo disco da banda. “Vícios de Linguagem” tem Casarin brilhantemente tocando piano e um hammond B3 e participação especial de Julia e Maxime Waters e Carmen Twillie nos backings vocals cantando versos em inglês que evocam muito o Pink Floyd. “Algo Por Você”, parceria de Gessinger e Deluqui, tem um efeito de distorção na voz que soa interessante na primeira audição, mas logo se torna cansativo nas audições seguintes. “Lado A Lado”, de Gessinger e Casarin, tem letra e melodia comoventes que ganham muito com o coro de Kipp e Mark Lennon. Kevin Cronin, vocalista da banda REO Speedwagon também participa da faixa, tocando violão. A letra traz mais uma referência à obra de Roberto e Erasmo Carlos (“Esqueça as curvas da estrada de Santos/Se tu quiseres saber quem eu sou”), dupla citada algumas vezes por Humberto em músicas como “Nossas Vidas” e “Sopa de Letrinhas”: Apesar dos esforços, a formação não emplacou. Humberto nunca pareceu ter realmente gostado do quinteto, nem do disco. O que foi comprovado com a dissolução da formação no ano seguinte, com Humberto investindo num projeto "quase" solo que foi o Gessinger Trio, para em seguida reformular os Engenheiros do Hawaii com novos integrantes, dessa vez até mesmo sem a presença do co-fundador da banda, Carlos Maltz.



P.S.: Eu sempre me pergunto por que continuar a escrever textos e resenhas como essa, se como dizia Ezra Pound: “a melhor crítica não adiciona nada para quem lê”. Ou como canta Humberto Gessinger em "Vícios de Linguagem": “o principal fica fora do resumo”. Talvez estes textos sirvam como despretensiosas recomendações aos poucos leitores, talvez sirvam para iniciar algumas discussões musicais, ou ainda, e mais provavelmente, não sirvam realmente para nada.

Em tempo: reproduzo abaixo nos comentários, o que escrevi na citada postagem de Humberto Gessinger que traz ainda um comentário de pessoa uma anônima sobre o tamanho do texto que escrevi na ocasião.